quinta-feira, 3 de maio de 2012

DRÁCULA

DRÁCULA
Ao subir na diligência, vi o cocheiro conversando com a estalajadeira. Só consegui captar algumas palavras, que eles repetiram várias vezes, como Ordog, "Satã", e vrolok, "lobisomem" ou "vampiro". Depois o cocheiro estalou o chicote, e partimos.
De vez em quando eu acendia um fósforo para olhar as horas. Era quase meia-noite. [...]
Acordei de repente, quando a carruagem parou no pátio de um imenso castelo em ruínas. Nem um raio de luz filtrava pelas enor­mes janelas negras. As ameias quebradas projetavam-se em ziguezague contra o céu enluarado. O co­cheiro me ajudou a descer e em seguida sumiu, com carruagem e tudo. Depois do que me pareceu um tempo interminável, ouvi pas­sos pesados, atrás da porta enorme, e per­cebi, através das frestas, uma luz se apro­ximando. Ouvi também o barulho de cor­rentes se entrechocando e de maciços ferrolhos se abrindo. Uma chave girou na fechadura, e a porta se escancarou.
Deparei então com um velho alto, de bigode branco comprido, todo vestido de preto. Segurava na mão uma antiga lanterna de prata, a cha­ma bruxuleante produzindo trêmulas sombras. Com um gesto convidou-me a transpor o umbral, dizendo: "Seja bem-vindo a minha casa. Entre por sua livre e espontânea vontade". [...]
"Conde Drácula?", perguntei.
"Sim, sou Drácula. Seja bem-vindo a minha casa, mr. Harker", repetiu.
Meu anfitrião conduziu-me então a uma sala iluminada, onde vi uma mesa posta para o
jantar. [...]
Quando terminei de comer, pus-me a observá-lo. Seu rosto era vi­goroso, com narinas arqueadas. O comprido bigode não escondia a boca rígida e cruel, os dentes brancos e pontiagudos ultrapassavam os lábios extraordinariamente vermelhos para um homem de sua idade. As ore­lhas sem cor terminavam em ponta. As unhas longas e finas pareciam muito afiadas.
Curiosamente, as palmas das mãos tinham pelos no centro. Quando ele se inclinou em minha dire­ção, uma horrível sensação de en­joo assaltou-me; meu anfitrião percebeu e recuou. Olhei pela janela, para ver os pri­meiros clarões do amanhe­cer, e ouvi o uivo de muitos lobos. Os olhos do conde brilha­ram. "Escute... são os filhos da noite. Que música com­põem!" Então ele se aprumou, dizendo: "Deve estar exaus­to. Seu quarto está arrumado. Ficarei fora até amanhã, por­tanto durma bem".
Há neste local e em tudo o que aqui se encontra alguma coisa tão estranha que não consigo me tranquilizar. Gostaria de estar longe da­qui, em segurança. Gostaria de nunca ter vindo para cá. Passei a noite conversando com o conde sobre os requisitos legais para efetuar a compra da casa que minha empresa encontrara para ele em Carfax, a leste de Londres.
Dormi apenas umas poucas horas, mas já estava escuro quando acordei, no final da tarde seguinte. Instalei meu espelho perto da jane­la e comecei a barbear-me. De repente senti a mão do conde pousar em meu ombro e ouvi sua voz, dizendo-me: "Bom dia". Levei tamanho susto que me cortei, embora superficialmente. Cumprimentei-o e continuei me barbeando. Para meu espanto o espelho não refletia a imagem do conde, que, contudo, estava ali, atrás de mim. Um fio de sangue escorria-me pelo quei­xo. Olhei em torno, procurando um curativo. Ao ver o corte em meu ros­to, o conde me agarrou pelo pescoço, os olhos brilhando. Então sua mão to­cou as contas do terço, do qual pendia o crucifixo, e sua fúria se dissipou tão depressa que mal pude acreditar.
"Tome cuidado para não se cortar", ele falou. "Neste lugar pode ser mais perigoso do que você pensa."
Em seguida estendeu aquela mão terrível, abriu a pesada janela e jogou fora o espelho, que se espatifou em mil pedaços nas pedras do pátio. Depois ele saiu sem proferir uma palavra.
Quando entrei na sala de jantar encontrei meu desjejum preparado, mas não vi meu anfitrião em parte alguma. [...]
Terminei a refeição e pus-me a explorar o castelo [...]. Deparei-me com portas e mais portas, todas trancadas. Aqui não há saídas além das janelas. Começo a temer que este castelo seja uma prisão, e eu um prisioneiro. [...]
Agora estou sozinho. Preciso descer pela parede e encontrar um modo de sair deste lugar medonho.
Bram Stoker. Drácula, trad. Hildegard Feist. São Paulo. Companhia das Letrinhas, 1997.

1) Responda:
a) Por que os olhos do conde Drácula brilharam quando ele viu o sangue escorrendo pelo queixo do seu hóspede?
b) Por que, ao tocar o crucifixo, sua fúria desapareceu?
c) O conde se livrou do espelho, jogando-o pela janela. Por quê?

2) Releia o primeiro parágrafo do texto.
Ao subir na diligência, vi o cocheiro conversando com a estalajadeira. Só consegui captar algumas palavras, que eles repetiram várias vezes, como Ordog, "Satã", e vrolok, "lobisomem" ou "vampiro". Depois o cocheiro estalou o chicote, e partimos.
a) Que sensações esse trecho produz no leitor?
b) Releia o segundo parágrafo do texto.
 De vez em quando eu acendia um fósforo para olhar as horas. Era quase meia-noite. [...]
Qual palavra deste trecho ajuda a construir um clima de mistério?
c) Releia o terceiro parágrafo.
Depois do que me pareceu um tempo interminável, ouvi pas­sos pesados, atrás da porta enorme, e per­cebi, através das frestas, uma luz se apro­ximando. Ouvi também o barulho de cor­rentes se entrechocando e de maciços ferrolhos se abrindo. Uma chave girou na fechadura, e a porta se escancarou.
E agora? Por que são descritos lugares cheios de barulhos e mal-iluminados?

3) O momento e o local onde acontecem os fatos colaboram para aumentar o suspense? Por quê?

4) Observe:
            Há neste local e em tudo o que aqui se encontra alguma coisa tão estranha que não consigo me tranquilizar.
a) O que você acha que a personagem estava sentindo nesse momento?
b) E no leitor, que sensação esse trecho provoca?
c) Qual era a intenção da personagem ao visitar o conde?
d) E a intenção do conde em receber esse hóspede? Qual era?

5) Geralmente os problemas que aparecem nas narrativas apresentam uma parte mais emocionante, que chamamos de clímax.
a) Qual é o clímax do texto?
b) Pensando em tudo que leram, escreva que recursos são usados para construir o clímax nessa narrativa.

6) Leia com atenção:
Olhei pela janela, para ver os pri­meiros clarões do amanhe­cer, e ouvi o uivo de muitos lobos. Os olhos do conde brilha­ram. "Escute... são os filhos da noite. Que música com­põem!"
a) Por que o conde diz que os lobos compõem uma bela música?
b) Observamos reticências nesse trecho. Que sensação essa pontuação transmite?

7) Releia o último parágrafo do texto:
Agora estou sozinho. Preciso descer pela parede e encontrar um modo de sair deste lugar medonho.
Este não é o final da história. Invente uma continuação para a história, escrevendo com detalhes o que você acha que poderia ter acontecido. Você poderá seguir os itens abaixo para organizar melhor as ideias.
a) Como a personagem pretendia escapar do castelo?
b) Será que ela conseguiu executar seu plano de fuga?
c) O que aconteceu com o conde Drácula?

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